O Poder Escondido através dos Brinquedos, Como eles moldam quem somos...
Longe de ser uma simples escolha de presente, a prática de dar bonecas a meninas carrega uma mensagem psicológica e subliminar que, por muito tempo, reforçou estereótipos de gênero.
Preparação para papéis sociais
A principal mensagem transmitida ao presentear uma menina com uma boneca é a de que ela está sendo preparada para os papéis de cuidadora e mãe. A boneca, muitas vezes, representa um bebê, e a brincadeira simula a maternidade. Essa dinâmica, reforçada ao longo de gerações, ensina a menina a cuidar, nutrir e proteger, assumindo responsabilidades historicamente associadas ao universo feminino.
Essa brincadeira de "faz de conta" com bonecas, carrinhos de bebê e casinhas, embora possa desenvolver habilidades como empatia e comunicação, também funciona como uma forma de internalizar o que a sociedade espera dela. Ela aprende, desde cedo, a associar seu valor e sua identidade a essas funções de cuidado, enquanto brinquedos como carros, blocos de montar e ferramentas, frequentemente direcionados a meninos, incentivam o desenvolvimento de habilidades de construção, exploração e liderança.
A influência dos padrões estéticos
Muitos brinquedos, como a Barbie, não são apenas objetos de brincar, mas também veículos de mensagens sobre o que a sociedade espera de meninos e meninas. No caso da Barbie, além do papel de cuidadora, muitas bonecas carregam a mensagem de que a aparência é fundamental para a identidade feminina.
Esses brinquedos frequentemente apresentam um padrão de beleza irrealista — com corpos magros, cabelos longos e roupas da moda — que pode influenciar a percepção corporal e a autoestima das meninas. A exposição a esses padrões pode gerar uma pressão para alcançar um ideal estético inatingível, contribuindo para a insatisfação com o próprio corpo e, em alguns casos, para o desenvolvimento de distúrbios alimentares e problemas de imagem corporal.
Não é só com as meninas que isso acontece. Os bonecos de super-heróis, por exemplo, muitas vezes moldam um comportamento de "macho poderoso e viril" que nunca pode perder suas batalhas. Esse tipo de representação pode impor uma pressão para que os meninos se sintam obrigados a serem fortes e invencíveis, reprimindo suas próprias emoções, o que pode ser prejudicial para a saúde mental.
A busca incessante por um padrão irreal pode levar a sentimentos de inadequação, ansiedade, depressão e, em casos mais graves, à ideação suicida. O Setembro Amarelo é um lembrete importante de que a saúde mental é tão vital quanto a física.
Quebrando estereótipos e expandindo potenciais
Vimos como bonecas e bonecos de super-heróis podem nos empurrar para padrões de beleza ou virilidade inatingíveis, afetando a saúde mental de crianças e adolescentes. Mas a boa notícia é que podemos quebrar esse ciclo.
Dar a uma menina um conjunto de ferramentas, um kit de ciências ou um carrinho, e dar a um menino uma boneca, é a forma mais simples e poderosa de permitir que eles desenvolvam todo o seu potencial, livres de mensagens subliminares que limitam suas escolhas e sua visão de mundo.
Bonecas, responsabilidade e afetividade
Quando meninas ganham bonecas, a brincadeira as estimula a criar um maior senso de responsabilidade e afetividade. Elas ensaiam o cuidado, a organização e o carinho. É por essa e outras razões que as mulheres, em geral, demonstram um amadurecimento mais rápido que os homens.
E aqui está o ponto crucial: se os meninos também brincassem de bonecas, eles desenvolveriam sua afetividade da mesma forma. Isso faria uma enorme diferença na vida adulta. Eles se tornariam homens capazes de cuidar de seus bebês em parceria com as mães: na troca de fralda, no banho, na papinha.
Essa ausência de incentivos ao cuidado e à responsabilidade na infância pode influenciar o desenvolvimento afetivo dos meninos. A falta de preparo, somada a outros fatores sociais e psicológicos, muitas vezes contribui para a dificuldade de expressar afeto e assumir responsabilidades na vida adulta, o que pode estar ligado a casos de abandono de filhos ao final de relacionamentos, por exemplo.
É hora de ver a boneca não apenas como um brinquedo "de menina", mas como uma ferramenta essencial para a paternidade e a afetividade de qualquer criança, independentemente do gênero.